NOTIDENTAL: Plasma poderá ser usado no combate ao biofilme bucal


Plasma de baixa temperatura, obtido a partir da ionização de gás de argônio, poderá tornar-se uma alternativa para a eliminação do biofilme bucal – o agregado de microrganismos que cresce no interior da boca, comprometendo a saúde de dentes, implantes e gengivas. 




O procedimento mostrou-se efetivo contra microrganismos em aplicações de apenas alguns segundos, tornando-o inovador quando comparado às terapias convencionais.

Pesquisa a respeito, desenvolvida pela pós-doutoranda Juliana Aparecida Delben, da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no câmpus de Araraquara, foi premiada pela Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica e selecionada como um dos dois trabalhos que deverão representar o Brasil na reunião anual da International Association for Dental Research (IADR), agendada para março de 2015, em Boston, Estados Unidos. O pós-doutorado tem o apoio da Fapesp.


“Em laboratório, fizemos crescer o biofilme sobre um disco de resina acrílica, que simula o desenvolvimento do agregado de microrganismos na cavidade oral. Trata-se de um modelo já bem estabelecido na literatura. A mesma dose de plasma foi empregada depois em um epitélio oral reconstituído em laboratório a partir de células humanas, com o objetivo de testar a toxicidade do procedimento”, explicou Delben à Agência Fapesp.

O procedimento mostrou eficácia no combate a um biofilme maduro, resistente à erradicação por meio de antibióticos. Ao mesmo tempo, os testes com o epitélio reconstituído não evidenciaram nenhum sinal de necrose (morte celular) ou apoptose (autodestruição celular ordenada). “As células continuaram com sua função preservada”, disse a pesquisadora.

O plasma utilizado foi obtido por meio da ionização de gás de argônio, dando origem a íons, radicais livres, elétrons e radiação eletromagnética – sendo essa combinação de agentes efetiva para combate a bactérias e fungos.

“Além disso, com a aplicação do plasma, ocorre, no interior do biofilme, a formação de espécies reativas de oxigênio, que provavelmente causam dano no DNA e ruptura da estrutura protetora dos microrganismos, eliminando uma quantidade significativa deles”, informou Delben.

Esse tipo de plasma já é usado na dermatologia para tratar feridas crônicas, que não saram por causa da contaminação bacteriana. Em algumas aplicações dermatológicas, foi constatado que, ao mesmo tempo em que elimina o biofilme, o plasma estimula a multiplicação das células saudáveis, favorecendo a regeneração do tecido. Mas, para que o procedimento possa ser considerado plenamente seguro, a possibilidade de mutação celular durante o processo de multiplicação precisa ser investigada.

Tal investigação é um dos próximos passos idealizados por Delben. O trabalho dela foi orientado por Carlos Eduardo Vergani, professor titular da Faculdade de Odontologia da Unesp de Araraquara. E contou com a colaboração de Simone Duarte, pesquisadora da New York University, e supervisora de Delben durante estágio na universidade norte-americana.







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