Popularizada nos últimos 20 anos pela Medicina Estética, a toxina botulínica é um complexo proteico purificado, obtido a partir de determinada bactéria que bloqueia a liberação da acetilcolina e faz com que os músculos não recebam estímulos para contrair. Quando aplicada nas linhas horizontais da testa, entre as sobrancelhas e ao redor dos olhos, seu efeito é bastante rejuvenescedor e tem duração de quatro meses, em média. Mas a novidade é seu uso na Odontologia, que vem ganhando cada vez mais adeptos na medida em que seus benefícios se tornam mais conhecidos.
De acordo com Luciano Artioli, cirurgião-dentista especialista em patologia bucal, há diversas indicações que levam o cirurgião-dentista a fazer uso da toxina botulínica no consultório. “Desde o tratamento do ‘apertamento’ e ranger dos dentes, passando pelo alívio de dores orofaciais, até o tratamento do sorriso alto – em que a gengiva é muito aparente –, são muitas as vantagens dessa opção terapêutica não invasiva, reversível, e que pode até mesmo evitar a realização de cirurgias em determinados casos”.
Artioli chama atenção para o uso da toxina botulínica no tratamento do bruxismo infantil. Mais comum entre crianças ansiosas ou hiperativas, o bruxismo pode ser relacionado com níveis de desgaste da superfície dos dentes, além de desconfortos musculares e articulares. Quando não tratado corretamente, pode contribuir para a progressão da doença periodontal que, por sua vez, tem implicações em várias doenças respiratórias e do coração, entre outras.
“O tratamento do bruxismo em crianças é mais complexo porque não é possível utilizar alguns dos recursos indicados para adultos, sob pena de comprometer o crescimento dos ossos da face e o correto posicionamento dos dentes. Quando bem indicada e realizada, essa opção terapêutica proporciona eficiência e conforto às crianças em muitos casos que, antes, a Odontologia não era capaz de oferecer”.
A frequência das aplicações também merece atenção, já que o objetivo é evitar que o organismo produza anticorpos e seu efeito acabe se tornando cada vez mais fraco. Nesse sentido, o especialista afirma que é fundamental administrar a toxina botulínica em todos os músculos desejados na mesma sessão de aplicação, respeitando um intervalo mínimo de três meses entre as aplicações – conforme recomendação do Ministério da Saúde.
“O uso odontológico da toxina botulínica geralmente é bem tolerado e as reações sistêmicas são raras. Entretanto, podem surgir pequenos hematomas no local da aplicação. Seu uso é contraindicado em pacientes com hipersensibilidade a qualquer componente do medicamento, portadores de miastenia grave (fraqueza dos músculos voluntários) ou de doenças do neurônio motor. Gestantes e lactantes também não têm indicação, assim como pacientes que façam uso de medicamentos potencializadores do bloqueio muscular”, diz Artioli.
TREINAMENTO É A PALAVRA DE ORDEM
A prática dos cirurgiões-dentistas no uso odontológico da toxina botulínica é fundamental. “Profissionais da Odontologia têm muita sensibilidade, grande conhecimento anatômico, e uma habilidade toda especial com aplicação de injeções.
Isso faz deles ótimos candidatos a proporcionar efeitos extraordinários para seus pacientes, resolvendo muitos dos problemas orofaciais que os afligem através dessa terapia conservadora, minimamente invasiva e que tem se mostrado uma opção terapêutica bastante benéfica. O sucesso da terapia, entretanto, é proporcional à quantidade de treinamento”, diz Luciano Artioli.
Fonte: Prof. Dr. Luciano Artioli, cirurgião-dentista especialista em patologia bucal, com 23 anos de docência nas disciplinas de Semiologia, Laser e Implantodontia.
Fonte: SEGS