IMPLANTODONTIA: Cirurgiões discutem novas técnicas de implantes dentários


O Brasil realiza mais de 800 mil implantes ao ano. São utilizados para tanto cerca de 2,4 milhões de componentes de próteses dentárias, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar (Abimo), divulgado no início deste ano.



Daí a preocupação de entidades de todo o País em atualizar seus associados, a exemplo do que fez recentemente a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas, de Rio Preto, que reuniu profissionais do Brasil e exterior para atualizarem suas informações sobre o que há de mais novo na área, a fim de evitar transtornos futuros no tratamento da população.

Para abordar a questão do implante, foi convidado o implantodontista Ricardo Lillo Espinoza, cuja experiência de mais de 15 anos na área, e como cirurgião especializado buco-maxilo-facial e implantologia, é também diretor do curso na Universidade Maior de Santiago, Chile, cujo conhecimento veio compartilhar com os presentes. “Tanto nosso país como o Brasil tem um alto conhecimento sobre o assunto. Vejo que aliás estamos no mesmo nível internacional dos Estados Unidos e Europa, lá a grande vantagem está no maior número de estudos e pesquisas”, diz.

► Leia também: IMPLANTODONTIA: Estudo revela tendência em substituir dentes saudáveis por implantes

Espinoza tanto trouxe novidades do Chile, onde tem feito mais implantes com a técnica Cone Morse (CM), como também veio para conhecer mais sobre o processo de produção nacional de osso, e sobre a nova técnica de concentrados de plaquetas e técnicas de cirurgia que se valem de endoscópio no processo de implantodontia. O chileno explica que a técnica do tipo CM se refere ao encaixe que o implante tem com a prótese.

Além deste modelo, existem outras duas a hexagonal externo (HE) ou hexagonal interna (HI). A CM se diferencia das demais conexões (HE ou HI) por possuir, além de um parafuso para fixação do implante com a sua prótese, a utilização de uma superfície inclinada cônica interna no interior do implante. “O objetivo é propiciar um melhor travamento interno do parafuso (“imita uma solda fria”). Desta forma diminui os riscos do afrouxamento da prótese”, afirma a protesista Fernanda de Almeida Condé, de Goiânia, que já faz uso desta técnica.

Embora o país esteja na vanguarda no que tange aos implantes, é importante atentar para o alerta do Conselho Federal de Odontologia (CFO) que observa existirem contraindicações de ordem absoluta, que desabilitam alguns pacientes a receberem implantes osseointegráveis, como por exemplo, indivíduos cardiopatas de alto risco e de ordem temporária, como adolescentes antes do término do crescimento ósseo (após a finalização do crescimento estão aptos), usuários de medicamentos tais como alendronato/bifosfonados, pacientes diabéticos e hipertensos “descompensados” (somente após controle, estes podem se candidatar e receberem implantes).

Prevenção sempre

Segundo o cirurgião dentista Heitor Bernardes Cosenza, de Rio Preto, que atualmente integra a equipe que coordena um curso de especialização em Implantodontia e Prótese na APCD, de Rio Preto, a prevenção evita intervenções radicais porque evita as causas das lesões dentárias e periodontais. Ele explica que hoje são realizados cerca de 500 atendimentos mensais, com valor em torno de 70% menor do que é cobrado em consultório, para pacientes que precisam de implantes. Cosenza alerta porém, que é possível por meio da prevenção evitar doenças bucais e jamais vir a precisar de extrações, por exemplo. “O diagnóstico precoce também diminui intervenções radicais, já que o tamanho da intervenção é diretamente proporcional ao tamanho do dano causado ao dente. Se o dente está sofrendo um dano que evolui com o tempo, diagnosticá-lo em um momento inicial faz com que o procedimento necessário para conter o avanço desse processo seja mais simples”, diz.

Importância do ‘plano diagnóstico’

Entrevista concedida pelo implantodontista chileno Ricardo Lillo Espinoza em sua estada em Rio Preto, que ressalta que tudo começa com a relação médico-paciente. “Aqui começa o bom relacionamento com nosso paciente, essa relação é muito importante para alcançar o sucesso do tratamento”, diz.

Diário da Região - Existe algum estudo sendo realizado com relação a rejeição ou infecção causada por um implante?
Ricardo Lillo Espinoza - O sistema de implante por osseointegração é altamente bem-sucedido! Falhas são geralmente atribuíveis à má gestão no plano diagnóstico e tratamento, o que significa uma cirurgia muito traumática, em mau estado, a má avaliação do tecido ósseo e, finalmente, falta de planejamento sobre a biomecânica do implante, uma vez que tem sido reabilitado. Rejeição é muito discutível e atinge apenas a 2 ou 3%. Com infecções precisa ter cuidado porque muitas vezes são muito difíceis de tratar, daí a importância de controles e de ser tratada o mais cedo possível.

Diário - Que tipo de cuidados é preciso adotar após se implantar dentes?
Espinoza - Cuidados devem ser os mesmos que para os dentes naturais ou até mais dedicação, porque as doenças ou infecções que ocorrem devido à falta de higiene ou atendimento em implantes, evoluem muito rápido e muitas vezes são muito agressivos. Difíceis de tratar, especialmente em tecidos moles. Insisto na importância de inspeções periódicas, sempre com radiografias.

Diário - Existe alguns impeditivos que devem ser respeitados, quais, que inviabilizem a implantação de dentes?
Espinoza - As contraindi-cações em implantodontia são raras, a maioria é relativa, em absoluto somente em dependentes químicos, deficientes mentais avançados ou em portadores de doenças sistêmica descompensada, como o diabetes, por exemplo. É preciso cuidado com excesso de fumo. Mas geralmente a maioria das pessoas pode ser um candidato para o tratamento de implante dentário

Diário - Com relação ao material utilizado qual a melhor forma de se escolher o material que será usado no implante?
Espinoza – Hoje, 99% dos implantes são feitos de titânio grau IV, por isso não há muita escolha, o importante é o tratamento de superfície de titânio. Os estudos de implantes realizados garantem a qualidade do titânio utilizado, que é livre de impurezas e completamente estéril. A única garantia é escolher um implante com muitos estudos e pesquisas. Essa é a nossa garantia.

Diário - Como é possível se certificar que o tratamento é aquele mesmo que a pessoa precisa?
Espinoza - Hoje, não podemos garantir um tratamento, porque se trata de biologia e, portanto, não é uma ciência exata. Você pode se comportar de uma certa maneira e outra pessoa de forma muito diferente. Só podemos falar sobre as taxas de sucesso e elas estão entre 95 a 97%, o que é muito alta em medicina. Insisto que o diagnóstico e plano de tratamento são muito importantes para o sucesso. O planejamento pobre significa uma falha e que não pode ser atribuída ao implante.

Diário - O índice de satisfação e insatisfação estão equivalentes, ou um é maior que o outro, e qual?
Espinoza - O índice de satisfação é muito elevado em comparação com insatisfação. O bom planejamento praticamente garante o sucesso do tratamento e isso acontece, conversando com o paciente para ver quais são as suas expectativas e se essas expectativas são reais e correspondem ao que podemos oferecer. Todo isso antes de começar o tratamento. Uma vez que tudo é explicado e entendido pelo paciente começou o tratamento.

Ossos Sintéticos

Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), é constante o estímulo à capacitação e treinamento de profissionais da área a fim de que novos mecanismos de estudos sejam inseridos na prática odontológica. Um exemplo disto é a utilização de ossos artificiais para uso exclusivo na capacitação médica em diversas universidades e cursos contribuindo na formação de profissionais, já que a prática em ossos com deformidades - que são difíceis de serem encontrados naturalmente - são fabricados de acordo com as necessidades de cada especialidade. A única empresa que produz ossos sintéticos. no Brasil, é a Nacional Ossos, instalada em Jaú, interior de São Paulo, onde são produzidos mais de 300 tipos diferentes de ossos do corpo humano e veterinário.






Dentística